UM ANO DA REABERTURA DA BIBLIOTECA PÚBLICA ESTADUAL DO AMAZONAS

Faz um ano hoje que a Biblioteca Pública Estadual do Amazonas reabriu suas portas, após uma permanência de mais de cinco anos fechada. Mesmo sem festa gerou contentamento a todos aqueles que aguardavam o acesso a esse espaço de cultura na cidade de Manaus. Esse post é apenas para não deixar passar em branco e por isso apenas reproduzo o texto publicado em 2013 na Revista Biblioo, onde agradeço a colaboração de todos que auxiliaram o Movimento até a concretização de nosso objetivo: ver a Biblioteca Pública Estadual do Amazonas reaberta e em atividade. O texto abaixo aponta momentos significativos de nosso trabalho e vale a pena ser relembrado.

Sabor de um sonho realizado: a Biblioteca Pública do Amazonas reabre suas portas

                                                               Publicado em 21 fev, 2013 | na Revista Biblioo


Abriu!!! A tão esperada e reivindicada Biblioteca Pública do Estado do Amazonas finalmente abriu suas portas e trouxe para todos os que estiverem envolvidos direta ou indiretamente, o gosto pela conquista.

O acontecimento se deu no dia 31 de janeiro de 2013 e de forma quase inaudível, pegou a todos de surpresa, inclusive nós do Movimento ABRE BIBLIOTECA. Contudo, foi tão positivo saber que a espera pela reabertura havia acabado que dificilmente conseguiremos expressar em palavras essa sensação de alívio.

Havia uma promessa feita por Omar Aziz, governador do estado do Amazonas, de que em até janeiro de 2013, a Biblioteca seria entregue novamente à sociedade. Durante todo o mês de dezembro de 2012 e até meados de janeiro de 2013, esperamos o anúncio que deveria vir da Secretária de Cultura. Não houve anúncio, tampouco uma satisfação providencial para aplacar a ansiedade daqueles que aguardavam desde 2010 pela reabertura e que já não acreditavam mais em datas que não se cumpriam.

O certo é que abriu, discretamente, sem alarde, sem fogos de artifícios e sem contar com os apaixonados pelos espaços da cidade que com certeza se houvessem tomado conhecimento, teriam feito todo o possível para estar presente na hora oficial da reabertura. Creio que o governo perdeu a oportunidade de fazer algo bonito e as claras como devem ser as ações que envolvem serviços e recursos públicos.

Quanto a nós, do ABRE BIBLIOTECA, se por acaso tivéssemos sido convidados para a reinauguração do espaço, teríamos valorizado em muito o momento que repercutiria de forma muito mais favorável do que uma entrega feita às escondidas.

Pensando sobre a opção do governo em nos colocar de fora nesse momento tão oportuno, lembrei do livro O direito à cidade de Henry Lefebvre (1991, p. 135), especificamente da passagem em que o autor aponta que:
O direito a cidade se manifesta como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e ao habitar. O direito à obra (à atividade participante) e o direito à apropriação (bem distinto do direito à propriedade…).
Lefebvre, em seus estudos, aponta problemas que envolvem sociedades urbanas e seus conflitos. Se lembro dele enquanto escrevo esse artigo é por pensar no quanto nosso direito ao uso do espaço e dos recursos e serviços da Biblioteca Pública do Amazonas nos foi negado, assim como também o foi, o direito de comemorar seu retorno ao nosso convívio.

O Movimento Abre Biblioteca

Nascido em abril de 2012, o Abre Biblioteca, foi idealizado objetivando atrair a atenção da opinião pública para as perdas que a cidade de Manaus estava sofrendo com a elevada demora na concretização das obras de reforma do edifício, fechado desde 2007.

O movimento foi iniciado a partir de uma reunião com um grupo restrito formado por Thiago Siqueira, Katty Anne Nunes, Evany Nascimento, Gutemberg Praia, José Bustamante e eu. Em poucos dias conseguimos fazer um trabalho de mobilização tantos nas redes sociais, quanto nas ruas da cidade de Manaus e até outras localidades. Em alguns meses já havíamos extrapolado fronteiras e íamos tocando a sensibilidade de muitos que ao seu modo torceram e contribuíram pela reabertura da Biblioteca Pública do Amazonas.

Ao longo de dez meses, várias ações e providências foram tomadas visando instigar a visibilidade para o problema da Biblioteca fechada. A primeira medida foi à criação de uma marca para a campanha, seguida de uma petição pública que teve a participação do total de 2.686 assinaturas em formatos online e impresso, com adesão de assinaturas de vários estados e até de outros países. A veiculação nas redes sociais de pessoas que cederam sua imagem posando com o cartaz ou a camisa do Movimento, fez toda a diferença. Dentre as mobilizações de rua realizadas podemos destacar:

1. O Abraço: ação simbólica que envolveu um abraço ao prédio da Biblioteca Pública do Amazonas e que contou com mais de 100 pessoas que ecoavam palavras de ordem pedindo a reabertura da Biblioteca pelas ruas do Centro histórico de Manaus.



2. Biblioteca na rua: teve por fim disponibilizar aos transeuntes atividades culturais e ações de incentivo à leitura. Consistiu numa manhã inteira oferecendo livros, jornais e revistas. Foi realizado também lançamento de livros, abordagens poéticas e outros. A ação aconteceu em frente ao prédio fechado da Biblioteca;


3. Mural Abre Biblioteca: o objetivo foi criar uma aproximação dos artistas de rua com a causa e para tal convidamos dois grafiteiros para criarem uma arte voltada para o incentivo à leitura no tapume que segregava a população do acesso ao espaço da Biblioteca;

4. O Grito: última ação de rua realizada pelo Abre Biblioteca que aconteceu no dia 2 de dezembro de 2012, durante a reinauguração da Praça do Congresso em Manaus. Contou com cerca de cinquenta pessoas, que chamaram a atenção do governador do estado, num grito que expressava o desejo pela reabertura da Biblioteca Pública do Amazonas.
 

As ações do Abre Biblioteca podem ser consideradas expressões de movimentos populares urbanos e com uma significação relevante por ter reunido de forma ampla profissionais das áreas de informação e cultura do país. A viabilização desse trabalho obteve alcance considerável graças aos avanços da tecnologia e a adesão cada vez maior de pessoas às redes sociais.


A Biblioteca Pública Estadual do Amazonas

A Biblioteca Pública do Amazonas remonta o ano de 1870 e passou por vários espaços da cidade até ser definitivamente instalada em prédio próprio em 1910. A construção do edifício reflete um período em que o Amazonas vivia uma fase de privilegiada posição na economia brasileira graças às excelentes receitas obtidas com a comercialização da borracha.

Foi construído em estilo neoclássico, com escadas originárias da Escócia, bem como outros aparatos arquitetônicos da Inglaterra. Possui dois pisos que estão divididos em quatro salões. O prédio passou por um incêndio em 1945 e grande parte do seu acervo foi consumido pelas chamas, mas através de doações feitas por moradores da cidade de Manaus e outros estados, o acervo foi novamente ampliado.

Durante anos, o prédio da Biblioteca foi ponto de encontro de estudiosos, escritores, pesquisadores, estudantes e transeuntes que viam o local como espaço de referência da cultura da cidade, até ser fechado para reforma em 2007.

Reinaugurado no dia 31 de janeiro de 2013, o prédio passou por várias adaptações para atendimento a pessoas portadoras de deficiências, tendo sido instalados equipamentos de acessibilidade motora e aparatos tecnológicos de leitura.

Um aspecto que deve ser ressaltado foi à ampliação do horário de atendimento. A Biblioteca agora funciona de segunda à sexta, das 8h às 20h, e aos sábados, de 8h às 14h. Entre os serviços oferecidos, constam consulta local e empréstimo domiciliar e registro de direitos autorais.

Tem chamado bastante atenção dos jovens os 38 computadores com acesso a internet que funcionam em espaço agradável e climatizado. Contudo, observei que seria ideal que esse setor contasse com a presença de um bibliotecário que pudesse interceder de forma interpessoal, apresentando outros mecanismos informacionais para motivação da leitura dessa clientela.


Abre Biblioteca… Brasil

Infelizmente existem outras bibliotecas públicas no Brasil com suas portas fechadas. Um dos casos mais graves é a Biblioteca Pública Estadual Benedito Leite, do Maranhão, que passa há anos por reforma e assim como aconteceu no Amazonas, à população vive a expectativa de datas para a reabertura que não são cumpridas. Também a Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro está passando por reformas. Em dezembro de 2012, anunciou sua reabertura, mas não conseguiu cumprir o prazo.

Sei ainda que a Biblioteca Pública Estadual do Rio Grande do Sul também está em obras desde 2009, mas adotou uma medida interessante para minimizar os danos pois oferece a possibilidade de visitas guiadas para acompanhamento do restauro do prédio.

Em 2011 estive em Alagoas e vi que a Biblioteca Pública do Estado de Maceió também fechou suas portas para uma reforma iniciada em 2010. Ainda não reabriu…

Soube que a Biblioteca Pública Estadual de Rondônia também já não atua e alguém me falou que a de Biblioteca Pública de Câmara Cascudo, no Rio Grande do Norte, também não. Mas essas não posso afirmar. Fica, porém, aqui o registro e desde já deixo claro que ficarei feliz se alguém, por ventura, apontar que estou cometendo um engano e que essas bibliotecas estão em pleno funcionamento.


Uma vitória coletiva

Após quase 10 meses de trabalho intenso por meio do Movimento Abre Biblioteca, envolvendo mobilizações nas redes sociais, manifestações nas ruas, produções e imagens com participação popular de inúmeras pessoas de cidades do Brasil e outros países, o que podemos perceber é que o tema biblioteca ainda comove e sensibiliza. Mas é oportuno repensar modelos e ampliar as discussões sobre o sentido da existência das bibliotecas públicas para o desenvolvimento das cidades e seu papel no auxílio à formação dos cidadãos.
  


Aproveito para agradecer a todos que contribuíram ao seu modo, seja assinando a petição pública, cedendo sua imagem, todas as curtidas, comentários e compartilhamentos no Facebook, bem como toda a energia positiva emanada. Essa vitória é de todos nós!

Comentários